segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Para discutir o Brasil de ontem e de hoje. Capítulo 1 - A crise do feudalismo

Para entendermos o Brasil de hoje é preciso buscarmos no tempo as causas do desenho econômico-social de ontem, bem como o cenário político e suas costantes transformações, além das projeções estratégicas de cada período da nossa história. Para começarmos a viagem é importante revisarmos a Idade Média, sobretudo a crise do feudalismo e suas consequências. Observe que o crescimento demográfico na Europa a partir do século X, modificou o modelo auto-suficiente dos feudos. A população européia mais que dobrou impulsionando o crescimento de lavouras e a dinamização das atividades comerciais. No entanto, essas transformações não foram suficientes, embora nesse período, várias áreas florestais foram utilizadas para o aumento das regiões cultiváveis.
A discrepância entre a capacidade produtiva e a demanda de consumo retraiu as atividades comerciais. Em condições tão adversas, o risco de epidemias se transformou em um grave fator de risco. Nos anos de 1447 a 1450, a peste negra se espalhou entre as populações causando uma grande onda de mortes que ceifou, aproximadamente, um terço da Europa. O contingente populacional europeu atingia a casa dos 35 milhões de habitantes.
A falta de mão-de-obra disponível reforçou a rigidez nas relações trabalhistas. Temendo perder seus servos, os senhores feudais criavam novas obrigações que reforçassem o vínculo dos camponeses com a terra. Além disso, o pagamento das obrigações sofreu uma notória mudança com a reintrodução de moedas na economia da época. Os camponeses, nessa época, responderam ao aumento de suas obrigações com uma onda de violentos protestos acontecidos ao longo do século XIV.
Ao mesmo tempo, o comércio vivia grandes entraves com o monopólio exercido pelos árabes e pelas cidades italianas. As rotas comerciais e feiras por eles controladas inseriam um grande número de intermediários, encarecendo o valor das mercadorias vindas do Oriente. Como se não bastassem os altos preços, a falta de moedas impedia a dinamização das atividades comerciais do período. Nesse contexto, somente a busca de novos mercados de produção e consumo poderiam amenizar tamanhas dificuldades. Foi assim que a expansão marítimo-comercial se desenvolveu.
O pionerismo português pressupunha a centralização do poder político para o estabelicimento de novas rotas comerciais, que significaria novos pólos de exploração mercantil, portanto o montante dos recursos só poderia ser mobilizado pelo Estado centralizado, que, a partir disso, reuniria condiçoes para superar a crise feudal. Para tanto a colônia deveria existir para desenvolver a metrópole, pois aquela deveria ser um mercado consumidor para produtos desta, além de fornecer artigos e locais de ocupação para trabalhadores da metrópole.
Todavia, numa análise mais profunda, a colonização aparece como desdobramento da expansão comercial, que inicialmente eram apenas entrepostos que se limitavam ao escambo de produtos naturais. Mas, em face do interesse em garantir a posse da colônia disputada por países concorrentes a solução implicava na valorização das terras descobertas: passou-se da simples circulação comercial para a complexa produção de bens e serviços. Com isso, surgiram as colônias de povoamento, como nos Estados Unidos da América, e de exploração, como foi o caso do nosso Brasil.

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