sexta-feira, 17 de junho de 2011

Assim falou-me Zaratrusta

Fecho os olhos e me lembro de quando li pela primeira vez: Assim falou Zaratustra. Li em voz alta, sozinho, no meu quarto. Eram momentos preciosos de terna paz e reflexão. Até hoje não me esqueço do cheiro de jasmim que a brisa da tarde trazia, nem dos sentidos entorpecidos pelas vertigens transcendentais dos pensamentos tortuosos de Nietzsche.

Nunca mais bebi da fonte do velho Zaratustra, nem me embrenhei pelas veredas dos sentimentos primários da solidão O homem é antes de tudo um ser solitário. Vivemos à margem de nós mesmos, procuramos, em vão, o prazer a todo custo, ainda que sob a forma de comunhão, de fraternidade, de solidariedade, todavia, debalde.

Reconheço-me em cada linha, em cada palavra ou mensagem oculta no texto, me reencontro em cada caverna, em cada ser que traz em si o silêncio perecível da solidão absoluta do tempo, do cosmos, dos hormônios.

O sábio senhor soube se encontrar no vazio errático dos labirintos emocionais, pois ele se procurava o tempo todo, seja no seu delírio ou na sua solidão. Contudo, nunca praticou viés torpe à sua amoral, ao menos sem dar conta do desejo de fugir, ou para nenhum lugar, ou lugar algum. Assim falou-me o velho tragado pelas marcas do tempo, coroado pela exposição de seus pensamentos, e assim ele me disse: o tempo passa e o que não passa são as lições de outrora onde jamais estive presente.